Embora continue a passar ao lado do mediatismo nacional, por
motivos variadíssimos, a verdade é que estamos na iminência de escolher o chefe
de Estado Maior e figura máxima da democracia para os próximos cinco
complicados anos da vida dos portugueses. Na questão de saber quem será o
sucessor do “cavaquismo”, que impregnou de sisudez parcial e muitas vezes
irracional o Palácio de Belém, após responder à questão fundamental e primeira
de “votar ou não votar em Marcelo Rebelo de Sousa?”, impõe-se a pergunta
secundária decorrente da resposta negativa à primeira: “Em quem votar então?”
No que ao vosso escriba diz respeito, a resposta à pergunta
secundária não se altera da primeira e a negativa continua a imperar na minha
receptividade às Presidenciais 2016 e aos seus candidatos. No entanto, embora o
sentido da resposta seja o mesmo a fundamentação da mesma difere e se a negação
de votar em Marcelo Rebelo de Sousa se sustentava numa motivação de diferença
(escalpelizada no anterior texto), a razão para não votar em mais nenhum outro
candidato manifesta-se na indiferença com que essas mesmas candidaturas se me
apresentam e que uma campanha vazia de ideias não ajudou a dissipar. Ainda
assim, e a bem da democracia, a indiferença que tais candidaturas me suscitam
não deverá ser impeditiva de analisar, um a um, os candidatos e os motivos que
me levam a não votar neles, não deixando, assim, nenhum de fora e a todos,
candidatos de primeira ou de segunda, rejeitar categoricamente.
Marisa Matias e
Edgar Silva – jamais votaria para presidente quem não considero ser
candidato presidencial mas meras extensões de propaganda ideológica e
disseminação de mensagem política dos aparelhos partidários que os apoiam; as candidaturas
de Marisa Matias e Edgar Silva não têm o intuito de os constituírem verdadeiros
candidatos a Presidente da República mas tão somente aproveitar o tempo de
antena reservado à campanha presidencial com o fito único de cumprir a agenda e
calendário político dos respectivos partidos que as sustentam. Como tal, e por
não os considerar verdadeiros candidatos presidenciais, não os dignificarei com
uma análise das suas candidaturas (não) presidenciais.
Cândido Ferreira- não
o conhecendo, este candidato fez questão de revelar toda o seu pedantismo ao
gabar-se, pomposamente, no debate dos 9 candidatos de 19 de Janeiro que era ali
o único que tratava por “tu” António Costa, expondo, dessa forma, uma
mesquinhez de carácter tão pequena que não lá caberá a cruz do meu voto.
Henrique Neto
– se Marcelo Rebelo de Sousa é o “grande magnânimo”, Henrique Neto assume,
nestas presidenciais, o papel do “grande ressabiado” e qualquer candidatura a
um serviço público, nascida e movida por um sentimento tão pequeno como o ressabiamento,
está condenada ao fracasso.
Jorge Sequeira
– o candidato do “Nuorte” marcou a sua candidatura com as piadas sexuais de mau
gosto dirigidas a Marisa Matias…embora compreenda que uma piada sexual para ter
piada tem, inevitavelmente, de ser de mau gosto e de achar que a ingénua
incompetência de quem concebeu os infames cartazes de “Uma para Todos” ser
merecedora de tais observações de promiscuidade, não quero correr o risco de,
por um piropo mal direccionado à Sra. Merkel, ter a Alemanha a querer anexar-nos.
Paulo Morais
– julgo sinceramente que o Sr. “Anti-Corrupção” está nesta campanha enganado…quando
recebeu a Newsletter do “OfertaEmpregos” deve ter “clickado”, por engano, no
link que dizia “Aceitam-se candidaturas a Presidente da República” quando o que
queria mesmo era clicar no link ao lado “Procuram-se Inspectores da Polícia
Judiciária”. Para que o seu engano não ganhe proporções grotescas, não me
enganarei eu em votar nele.
Vitorino Silva
- não votarei em Vitorino Silva para que não deixe existir o Tino de Rans, esse
ser capaz de, numa linguagem tão popular e familiar, sintetizar cristalinamente
a pobre e vazia campanha presidencial de 2016: “eu não venho para aqui para “intrigalhadas”
e há uma parte do debate que não me interessa para nada…eu até estou para aqui
a fazer bonequinhos.”
Maria de Belém
– desde início, se houve candidato que inspirou o meu mais profundo
distanciamento e indiferença, quase a raiar a repulsa, foi Maria de Belém; não
sabia, no entanto, explicar porquê e tal sentimento edificava-se somente numa
vaga intuição que associava esta figura a tudo o que de mais bafiento tem a
política…sempre a vi como a candidata do “sistema”, seja lá o que raio é o “sistema”.
No entanto, nunca conseguia substanciar esta minha vaga ideia em algo de
concreto e tal inquietava-me…até que foram conhecidos os subscritores e “pedintes”
da reposição das subvenções vitalícias e aí, aí tudo fez sentido. Maria de
Belém, a candidata da “força do carácter”, revelou o seu verdadeiro carácter e
a minha vaga intuição materializou-se neste corpo concreto de uma mulher que
vive da política e para a política que a sirva a ela.
Sampaio de Nóvoa
– é o candidato, pelo seu posicionamento ideológico, pelas ideias que defende e
pela própria forma como nasceu e foi conduzida a sua candidatura que me poderia
levar a não votar em branco; no entanto, e paradoxalmente, o seu principal “slogan”
é a razão pela qual não votarei nele. Sampaio da Nóvoa apregoou, durante toda a
campanha presidencial, que este é um tempo novo e que ele é o candidato desse
mesmo tempo novo. Tem razão no primeiro predicado da frase anterior mas não a
tem para o segundo…é de facto um tempo político novo o que vivemos mas é um
tempo novo feito de grandes desafios e de grandes riscos (conforme referiu e
bem o meu co-blogger Marcelino Cardoso em "Governo de Alto Risco") e que por isso mesmo necessita
de um presidente experienciado politicamente, com traquejo e peso político. Não
nos iludamos! Se quisermos, como eu quero, que este tempo novo continue e dure
pelo menos uma legislatura, irão existir alturas em que será necessária a
colaboração e consentimento do PSD, ignorar isso é ignorar que foi o PSD quem
mais votos teve nas últimas legislativas; e para que isso possa acontecer, para
que o PSD e os partidos que suportam o actual governo ajam responsavelmente com
vista à harmonização deste novo tempo, é imprescindível um presidente com peso
político incontestável e uma envergadura popular que o faça ser ouvido quer por uns
quer por outros, um presidente com experiência neste tipo de negociações e
conhecedor dos corredores onde acontece a “real politiks” e esse candidato não
é Sampaio da Nóvoa…Não votarei em Sampaio da Nóvoa porque este é um tempo novo
que não admite um presidente novato!