domingo, 24 de abril de 2016

25 de Abril

Porque o 25 de Abril tem mais de poesia do que prosa, deixo o meu "post" comemorativo em formato diferente:

Os cravos que vestem o vermelho

Do sangue por derramar
Cantam canções de liberdade
E dançam o fim de censurar
Poemas escritos por canhões não disparados
Inspiradores de democrata beldade
Musa virgem de méritos não conspurcados
Ao ditador fez de velho.

De piedade esquecida se perdoam os velhos
Que apesar de tortura e matança
Se esfumam no tempo de novos vilões
Que na liberdade castram a esperança
Do sonho por realizar
A ditadura agora é a dos tostões e dos milhões
E o sofrimento por não ter o que trabalhar
Comemoremos ao menos os cravos ainda vermelhos.

Lembrança e memória do sangue vermelho
Daqueles que em nome da pátria morreram
Torturados, deportados, censurados…para sempre silenciados!
E mesmo com a desilusão e frustração que da revolução nasceram
Não tomemos vilões por heróis
E não esqueçamos nos tempos passados
Os que por pensarem e falarem não viam sóis
Tributemos pois os que por liberdade não chegaram a velho! 

domingo, 17 de abril de 2016

A Grécia e o “Bullying”

Há tempos fiz notar que uma das principais, senão a principal diferença entre este e o anterior governo constituía-se no alheamento e no alinhamento, respectivamente, com a lógica sequestradora do Capitalismo de Último Reduto (vide Capitalismo de Último Reduto em Portugal – a diferença irrevogável entre PS e (este) PSD). Na altura, referi-me essencialmente, para ilustrar essa diferenciação, à concepção de diferentes modelos de crescimento económico por parte do antigo governo e por parte do actual, porquanto o primeiro concebia um modelo de crescimento concordante com esse mesmo capitalismo sequestrador e o segundo concebe um modelo de crescimento de ruptura com o último estágio evolutivo do Capitalismo.

Mas esta diferença irrevogável entre PS e (este) PSD não se esgota na concepção dos respectivos modelos de crescimento económico, manifestando-se também com particular evidência na tomada de posições no que à política externa diz respeito. No último texto postado (vide Luaty Beirão e o Capitalismo de Último Reduto), evidenciei mais uma manifestação desta diferenciação, gritada na propositura por parte de PS à condenação da condenação pelo regime Angolano de Luaty Beirão e à estridente recusa por parte de PSD. No presente texto proponho-me evidenciar mais uma manifestação da dicotomia alinhamento/alheamento ao Capitalismo de Último de Reduto latente entre o anterior e actual governo, servindo desta vez como exemplo cristalino dessa diferenciação o posicionamento perante a Grécia e a sua crise.

Aquando da discussão da concessão do último empréstimo à Grécia, a União Europeia comandada por Alemanha e suportada pela tecnocracia de Bruxelas mostrou o seu verdadeiro rosto, que não é o da cooperação e de solidariedade mas a de força arrogante e sobranceira do poder do mais forte perante o mais fraco, que a “Bullying” se assemelha. Aprofundemos a analogia…

Imaginemos a Alemanha como o rufia principal da escola que é a União Europeia e Bruxelas e os seus tecnocratas os amigos rufias seguidores daquele; Grécia, Portugal e Espanha constituem-se naqueles a quem frequentemente roubam a lancheira.
Depois de tanto ter infernizado a vida aos pequenos marginalizados, com medidas de austeridade que roubaram o recheio das suas lancheiras, o “bully” Alemanha preparava-se para mais uma emboscada à petiz Grécia, mas desta vez existiam dúvidas legítimas se neste assalto de “bullying”, seria acompanhada pelos seus comparsas habituais de Bruxelas, isto porque estes últimos começavam a duvidar dos proveitos que tais investidas desta natureza geravam, atentando no facto de depois de tantos almoços e lanches roubados aos pequenos e fracos, Grécia, Portugal e Espanha terem começado a deixar de levar almoço para a escola e terem passado a ir comer a casa ou até passarem fome, tal era a vergonha e humilhação a que eram acometidos por estes actos de “Bullying” a que amiúde eram sujeitos. Pressentindo tal relutância por parte de Bruxelas, a Grécia encheu-se de coragem e preparou-se para fazer frente à temível Alemanha; perspectivando que esta se apresentaria sozinha para a confrontação, a Grécia contava que Portugal e Espanha se aliassem a ela para fazer frente à Alemanha, pois constituir-se-ia esta numa oportunidade única de bater o pé a este “bully” desenfreado e assim fazer com que ele nunca mais voltasse a roubar as suas lancheiras nem a dar “calduços” e bofetões humilhantes que já se tornavam prática comum na escola. Chegado o dia, e quando a Grécia passava no corredor da cafetaria com a sua lancheira eis que lhe salta à frente a Alemanha e exige-lhe ameaçadoramente o seu almoço e lanche; a Grécia mantém-se firme e diz que desta vez não lhos dará, ao mesmo tempo que olha para trás de si e constata tristemente que lá não estão nem Portugal nem Espanha nem Itália nem Irlanda…Olhando mais atentamente a Grécia enxerga, escondidos por detrás da máquina de refrigerantes, os seus ex-companheiros de humilhação a presenciar a cena. Mas Portugal não se limitou à atitude covarde de se esconder a assistir a mais uma exacerbação sobranceira de força da Alemanha sobre a “fracalhota” Grécia, não… Portugal, numa derradeira manifestação da mais desprezível covardia desatou a correr a ir chamar os “bullies” de Bruxelas gritando que a Grécia hoje trazia a lancheira cheia de muitos e bons petiscos e que havia muito com que os de Bruxelas podiam ainda encher o bandulho (como as privatizações de muitos sectores de actividade económica grega ainda no domínio publico, como o património de propriedade pública, como reformas de valor elevado concedidas em tenras idades, etc. etc.), na esperança patética de com esta atitude bajuladora e submissa cair nas boas graças dos seus carrascos do costume e assim evitar que no futuro se metessem com ele… Como esperado, e depois do chamamento de Portugal e de muitos “calduços”, pontapés e ameaças a Grécia lá capitulou, entregando uma vez mais a sua lancheira aos “bullies” que até de expulsão da escola ameaçaram a pequena Grécia.

A metáfora supracitada evidencia o que foi a posição assumida pelo então governo de Pedro Passos Coelho perante a crise grega, posição de resto suportada e apoiada pela maioria da sociedade portuguesa, que entendeu tal distanciamento da Grécia e aproximação à Alemanha e Bruxelas como uma tomada de posição responsável e consequente, numa demonstração cabal e vergonhosa de submissão de tudo, de todo o tipo de valores e princípios, ao primado financeiro, naquilo que se pode definir como mais uma manifestação do Capitalismo de Último Reduto:
- manifestação grega: perante a possibilidade de confrontar a União Europeia e as forças que nela mandam com o fracasso comprovado com que a estratégia “austeritária” está a destruir o tecido da construção europeia, Portugal de Pedro Passos Coelho optou por alinhar com os prossecutores dessa mesma estratégia. Porque o fez? Para além de uma clara identificação ideológica que o antigo governo nutria por este tipo de medidas, que para a sustentação argumentativa aqui desejada não vem ao caso, se Portugal assumisse uma posição correcta em termos dos princípio e valores que devem orientar a condução da sua política externa no âmbito da União Europeia e denunciasse e se opusesse a esta sobranceira chantagem típica de “bullying” levada a cabo contra a Grécia, tal seria percepcionado pelo Alto Capital e pelos seus mercados como uma apologia de Portugal a um certo tipo de relaxamento no controlo das contas publicas, o que por sua vez seria percebido pelas agência de “rating” como um aumento do risco de não cumprir com o seu serviço de dívida, levando a notações de risco mais desfavoráveis que implicariam o acesso a mercados de dívida ainda mais dificultado podendo tal ainda espoletar a necessidade de um novo auxílio financeiro e logo novas medidas de austeridade castradoras das potencialidades de crescimento e desenvolvimento socioeconómico português. Assim, concluir-se-á que o abandono a que Portugal vetou a Grécia e o seu alinhamento com os mais fortes da Europa, seus habituais “bullies” de serviço, constitui-se numa medida social de combate à austeridade na defesa das possibilidades de crescimento económico e desenvolvimento da população portuguesa, culminando tal dedução lógica naquilo que é o sequestro da política externa por parte do Capital, numa nova demonstração cabal de submissão de tudo ao primado financeiro…Assim é no Capitalismo de Último Reduto…

"Se quem pede o empréstimo e o vai gerir diz que aquilo não vai resultar, o melhor é não perdermos dinheiro. Eu direi, portanto, que é necessária uma atitude diferente da parte do Governo grego para que as coisas possam resultar (…) Devo dizer até que, curiosamente, a solução que acabou por desbloquear o último problema que estava em aberto, que era justamente a solução quanto à utilização do fundo [de privatizações], partiu de uma ideia que eu próprio sugeri. Quer dizer que até tivemos, por acaso, uma intervenção que ajudou a desbloquear o problema (…) 25 mil milhões pudessem ser utilizados para, de certa maneira, poder privatizar os bancos que estão agora a ser recapitalizados". (Pedro Passos Coelho, no rescaldo das “negociações” entre União Europeia e Grécia).

A manifestação aqui descrita designa na perfeição a capacidade sequestradora deste Capitalismo de Último Reduto; uma capacidade suportada por um pragmatismo lógico e coerente que torna só mais difícil a sua refutação. Medidas que são, por si, socialmente injustas, anti-democráticas e eticamente reprováveis mas que ao abrigo deste modelo económico-social de Capitalismo de Último Reduto se revestem de sentido lógico, coerência e pertinência apenas podem atestar a perversão e perniciosidade deste mesmo modelo.

Felizmente, o actual governo parece não querer afinar com este diapasão do Capitalismo de Último Reduto, o que ficou bem latente aquando da recente visita de António Costa á Grécia e subsequente assinatura conjunta de Declaração contra Austeridade na Europa.
"Nós temos todos beneficiado muito de uma atuação do Banco Central Europeu, que não existia em 2010, e que graças a isso houve uma redução geral das taxas de juro, no conjunto da zona euro (...) mas não nos devemos deixar iludir de que essa redução significou que o problema estrutural da assimetria das economias ficou ultrapassado e que não necessitamos de ter um instrumento e um novo impulso para a convergência económica. Seria um erro pensarmos isso" (António Costa, no rescaldo da visita à Grécia)

domingo, 10 de abril de 2016

Luaty Beirão e o Capitalismo de Último Reduto

Já aqui descrevi a forma como a filosofia subjacente a este Capitalismo de Último Reduto, na sua apologia da submissão e subjugação de tudo ao primado financeiro, castra as possibilidades civilizacionais na concretização de uma sociedade mais justa, solidária e humana, apelidando mesmo este modelo socio-económico (que é o vigente no pós Crash de Wall-Street) de “Grande Sequestrador” (vide Capitalismo de Ultimo Reduto – o Grande Sequestrador).

Na descrição do Grande Sequestrador e da sua capacidade sub-reptícia de tudo subjugar e submeter ao primado financeiro, discriminei três manifestações do seu espírito pragmático que materializam e personificam esta alma-mater do Capitalismo de Último Reduto. Embora de último reduto, a abrangência deste capitalismo não se esgota nas três manifestações enunciadas e a sua omnipresença faz-se sentir amiúde no quotidiano da civilização sequestrada, pelo que é com naturalidade que vos venho agora falar de mais uma manifestação deste último estágio evolutivo do capitalismo, na sua subjugação de tudo á primazia financeira. Chamemos-lhe a manifestação “Luaty Beirão”…

- manifestação “Luaty Beirão”: este tipo de manifestação evidenciou-se na recente reacção do Parlamento Português, a casa de democracia nacional, à condenação do activista do mesmo nome por parte da justiça angolana. Tendo sido proposta a condenação da condenação por PS e BE, esta foi rejeitada pela maioria do parlamento com votos contra de PSD, CDS e PCP, no que apenas pode ser compreendido como mais uma manifestação deste Capitalismo torpe e bafiento que confere sentido à maior das ignomínias; vivêssemos nós numa sociedade saudável em que os eleitos do voto popular representassem de facto quem neles votou, o expectável seria uma condenação unânime por parte do Parlamento Português, país que assina a Cartilha dos Direitos Humanos, a esta clara violação do direito fundamental do Homem à sua opinião e à expressão dessa mesma opinião. Mas nós não vivemos numa sociedade saudável, vivemos subjugados por um Capitalismo de Último Reduto que tudo submete ao primado do Capital e subverte nessa submissão os mais elementares princípios democráticos, e portanto não foi isso que aconteceu, o Parlamento Português não condenou unanimemente nem por maioria sequer a condenação à condenação de Luaty Beirão, e não o fez porquê? Não o fez porque se Portugal assumisse de facto uma posição forte de condenação e repúdio à atitude ditatorial angolana, tal comprometeria o investimento de capital angolano em empresas nacionais que tanto dele necessitam e tal comprometeria a concessão de vistos a tantos portugueses que em Angola encontraram o trabalho que em Portugal escasseia. Desta forma, uma atitude de afronta ao Estado Angolano por parte de Estado Português degeneraria, enquanto medidas retaliatórias, numa redução do Investimento Directo Angolano em Portugal, o que, considerando que Angola é actualmente um dos principais investidores estrangeiros em Portugal, conduziria a que muitas empresas nacionais (empresas importantes e de grande dimensão) enfrentassem problemas de investimento necessário à sua competitividade e à sua subsistência conducentes à redução ou término das suas actividades e consequentemente a um aumento de desemprego, que aliado a outra medida retaliatória da paragem de concessão de vistos a trabalhadores portugueses em Angola constituir-se-ia numa verdadeira tragédia social no que ao aumento galopante do desemprego diria respeito. Assim, concluir-se-á que a não condenação por parte do Parlamento Português à condenação abusiva dos direitos humanos de Luaty Beirão constitui-se numa medida social de combate ao desemprego e à precariedade social, culminando tal dedução lógica naquilo que é o sequestro da defesa de direitos humanos pelo Capital, numa nova demonstração cabal de submissão de tudo ao primado financeiro…Assim é no Capitalismo de Último Reduto…


A manifestação aqui descrita designa na perfeição a capacidade sequestradora deste Capitalismo de Último Reduto; uma capacidade suportada por um pragmatismo lógico e coerente que torna só mais difícil a sua refutação. Medidas que são, por si, socialmente injustas, anti-democráticas e eticamente reprováveis mas que ao abrigo deste modelo económico-social de Capitalismo de Último Reduto se revestem de sentido lógico, coerência e pertinência apenas podem atestar a perversão e perniciosidade deste mesmo modelo.

sábado, 2 de abril de 2016

Adeus Cuba!

Numa altura em que o Capitalismo definha no seu terminal estágio de Último Reduto e se encontra aberta a vaga para modelo socioeconómico do mundo, os mais recentes eventos em Cuba (com a visita de Obama e o concerto dos Rolling Stones) prenunciadores de um processo de abertura deste regime a ocorrer num futuro próximo, não podem deixar de ser vistos e encarados como uma capitulação e rendição do Comunismo e uma admissão, por parte do seu maior embaixador, que este não será o modelo a ocupar essa mesma vaga.

Depois de muito resistir e subsistir a um embargo e isolamento históricos, não deixa de ser curioso (e revelador da incapacidade comunista) ser exactamente no momento de maior fragilidade e vulnerabilidade do Capitalismo, com as suas débeis estruturas financeiras e os seus alicerces imobiliários com fissuras que ameaçam o desabamento e colapso, ser exactamente neste período de debilidade capitalista em que se anseia por uma solução alternativa, que o último bastião comunista capitule perante o bastião capitalista e lhe abra as suas portas, com o desejo mal disfarçado de lhe abrir muito mais… O início do fim do embargo e isolamento cubanos, simbolizado pelos eventos acima referidos, significa tão somente a admissão de Cuba aos mercados de bens e serviços mundiais, aos mercados financeiros e de capitais do mundo ocidental e capitalista e o facto de tal admissão ser desejada por Cuba significa tão somente a capitulação comunista e a confissão do seu maior prossecutor de que este não é nem nunca será o modelo socioeconómico capaz de providenciar a qualidade de vida, em termos económicos e sociológicos, por que as pessoas anseiam.

Sendo Cuba o último reduto do Comunismo, o único caso de algum sucesso relativo e o reinado mais longo da experimentação comunista, a sua capitulação enfatiza a impraticabilidade da teoria comunista. A teoria comunista, e restrinjo-me aqui à original marxista e não às derivações do seu choque com a realidade nas variantes leninistas e trotskistas, consagra na sua ideologia um estádio de transição, que antecederia o atingimento do estado idílico comunista, a que designa de “ditadura do proletariado”; a ditadura do proletariado designa a fase de transição do modelo anteriormente vigente para o modelo comunista e defende, segundo Karl Marx, que durante esta fase dever-se-á inclusive recorrer à força física e armada de forma a reprimir e eliminar quaisquer agentes e elementos com ligações ao anterior e pernicioso regime não-comunista, porquanto não seria possível atingir o estado igualitário do Comunismo enquanto subsistissem agentes dissidentes e defensores do antigo regime. O insucesso de toda e qualquer experimentação comunista prende-se exactamente com o facto de nunca nenhum destes regimes ter sido capaz de superar este estádio, que supostamente seria de transição, da ditadura do proletariado e ter atingido o estado final do Comunismo; em abono da verdade para com a ideologia marxista, poder-se-á mesmo afirmar que nunca existiu um verdadeiro regime comunista no mundo e que tudo o que houve foram regimes de ditadura do proletariado, que se esgotaram nesta fase transitória sem nunca ter conseguido culminar num verdadeiro estado comunista. Muitas razões podem ser apontadas para esta incapacidade mas a mais premente, subsistente e insuperável enraíza-se na própria natureza humana, que, como definiu Adam Smith (ideólogo contra quem idealizaram Marx e Engels), é essencialmente e fundamentalmente egoísta e individualista e por isso contrária à teoria igualitária e despojada de individualismo preconizada pelo Comunismo.

Cuba terá sido o projecto que mais se aproximou da superação do estágio da ditadura do proletariado e do alcance de um verdadeiro estado comunista mas depois de meio século a combater a natureza humana, a final e anunciada capitulação exclama a insuperabilidade deste estágio que nunca se conseguiu que fosse apenas de transição. Depois de ter sobrevivido à guerra-fria e ter subsistido quando todos os outros pereceram já, Fidel Castro sucumbe “at last” perante o inimigo que a todos os pretendentes comunistas derrotou e derrotará, a natureza humana. Contra ela bastante lutou e nessa luta atentatória dos direitos humanos, por atentar contra a sua natureza, pode levar com ele, como menção honorária, uma população 100% alfabetizada, instruída e educada e um sistema de saúde universal gratuito de cuidado e tratamento humano que a ninguém exclui…Pode levar com ele ter sido quem mais perto esteve de atingir o clímax comunista nunca antes experienciado. Mas levará também, certamente com ele, as mortes e as castrações de liberdades de que foi responsável nesta tentativa utópica de contrariar a natureza humana.


“Se ela pudesse expor os seus sentimentos diria que não era isso o que eles desejavam quando destronaram a raça humana. Estas cenas de terror e assassinato nada se pareciam com o que visionavam naquela primeira noite em que Major lançara as bases para a Revolta. O seu ideal era uma sociedade de animais livres da fome e do chicote, todos iguais, cada um trabalhando segundo a sua capacidade, o forte protegendo o fraco, como ela tinha protegido com a sua pata os pequenos patinhos na noite do discurso de Major. Em lugar disto – e sem saber porquê – agora ninguém podia expor os seus pensamentos sem ser agredido por cães ferozes, e obrigado ainda a ver os seus camaradas feitos em pedaços, depois de confessarem os seus chocantes crimes.” (George Orwell, em “O Triunfo dos Porcos”).