sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Mensagem de Ano Novo: 12 passas políticas para 2016

Findo o ano de 2015, e depois de muito já ter dissertado acerca do que foi o passado político recente, caracterizado sobretudo pela emergência de um Capitalismo de Último Reduto já aqui devidamente caraterizado, julgo ser sadio, não só porque agora se inicia um novo ano mas também porque a este novo ano corresponde um novo momento e uma nova era política, centrar, quanto mais não seja por um “post”, o meu discurso no futuro e aproveitando a folia de “réveillon”, deixar os meus desejos para 2016, fazendo pois corresponder a cada passa (das 12 tradicionais de fim de ano) um desejo político.
1ª passa política – como primeiro e primário desejo para 2016, tenho de eleger o que considero ser o fenómeno de maior premência resolutiva, e que embora não totalmente político de resolução política carece – o fenómeno dos refugiados. Não se tratando de um fenómeno eminentemente político mas antes de cariz humanitário, a sua resolução e definição passam sobretudo por uma intervenção política e é sobre essa intervenção política que dedico a minha primeira passa política e que deixo o meu principal desejo e anseio político para 2016. Este desejo e anseio políticos constituem-se primeiramente que haja, ou passe a haver em 2016, uma consciencialização por parte dos actores políticos com responsabilidades na matéria, do que já aqui referi, ou seja, que este não é um fenómeno eminentemente político mas sim humanitário…E que a actividade política, ao contrário da sua tendência recente, deva servir causas humanitárias e submeter-se a estas e mediante estas recentrar o seu foco e prioridades. Já aqui tive oportunidade de dissertar de como esta filosofia de Capitalismo de Último Reduto subverteu a hierarquia de prioridades da actividade política (vide Capitalismo de Ultimo Reduto – o Grande Sequestrador) e essa subversão de prioridades e de submissão de valores éticos, humanitários e humanistas ao primado financeiro é, também na questão dos refugiados, uma manifestação latente. É pois meu principal desejo político para 2016 que a questão dos refugiados, com toda a tragédia humana que nos invade via noticiários e redes socias, seja suficiente para sensibilizar os actores políticos nela intervenientes a passarem, de uma vez por todas, a pautar a sua actividade e condução política sob a batuta de valores humanitários e éticos e não subordinada a valores financeiros e meramente políticos. É assim meu firme desejo para 2016 que EUA e Rússia deixem de condicionar o seu compromisso para com a questão síria à continuidade ou não de Bashar Al-Assad no poder e afirmem o seu compromisso inequívoco para com aqueles idosos, mulheres e crianças que arriscam a sua vida a fugir do fogo das armas que eles próprios venderam e que à custa das quais muito a sua economia prosperou. É meu firme desejo que a Europa deixe de condicionar a sua receptividade aos migrantes fugitivos da tirania a questões e possibilidades financeiras e afirme categoricamente que, para a Europa, a vida humana não tem valor e que receberá quantos fugitivos para cá quiserem vir (se num país tão pequeno como Portugal não há problema em enterrar 3 mil milhões de euros num banco tão pequeno como o BANIF, quão pequenez e mesquinhez é nesta Europa condicionar o apoio à vida humana a questões financeiras???).  É meu firme desejo para 2016 que aqueles que adulam Aristides Sousa Mendes (que espero ser toda a população portuguesa), tenham a sensatez de calar as suas reticências quanto à receptividade de fugitivos sírios. Infelizmente, nesta Europa de hoje, este meu principal desejo político para 2016 parece não passar de uma utopia política…Numa Europa onde aqueles que mais fazem na questão dos refugiados e que mais ardor humanitário colocam na condução da sua actividade política são ridicularizados, ostracizados, espezinhados, vilipendiados, humilhados e até ameaçados de expulsão por motivos meramente financeiros (vide Grécia) e aqueles que ameaçam construir muros fascistas para impedir a entrada de pessoas que fogem da miséria beligerante de que são vítimas humanas mas que têm um défice aceite por Bruxelas (e Berlim) nem de uma repreensão moral são alvo (vide Hungria) e numa Europa onde os países desenvolvidos e civilizados são aqueles que aprovam leis xenófobas (vide Dinamarca)…Nesta Europa, o meu principal desejo político para 2016 parece estar condenado a esfumar-se em utopia que os pragmáticos como Cavaco Silva não hesitarão em categorizar de devaneios esquerdistas.
2ª e restantes 10 passas políticas – depois da 1ª passa política e da difícil digestão de que revelou ser, fiquei enjoado e sem vontade de ingerir o que fosse mais no que a passas políticas diz respeito. Pensei até ingerir algumas seguintes e dedicá-las à irrevogabilidade da decisão da saída de Paulo Portas, ou do desfecho minimizador de perdas do Novo Banco ou da reversão de algumas privatizações lesadoras do contribuinte…Pensei em todas elas mas depois de ingerida a 1ª passa política, e face à dimensão dela (humana e humanitária), a ideia de ingerir 11 mais, pequenas e insignificantes quando comparadas, pareceu-me claramente nauseante pelo que decidi não as comer e guardá-las para 2016 na esperança remota de que, concretizado o meu primeiro desejo político, possa conhecer em 2016 em Portugal onze refugiados a quem entregarei de muito bom grado as minhas onze passas não comidas e os meus onze desejos políticos não formulados (com certeza os seus desejos políticos serão bem mais profundos, fundamentados e legítimos do que os meus).

“Tenho vergonha, enquanto membro desta liderança europeia, tanto pela incapacidade da Europa em dar resposta efectiva a este drama humano, como pelo nível do debate nas altas instâncias, em que cada um tenta passar a culpa para o outro.(…) Há muita hipocrisia e lágrimas de crocodilo a serem derramadas pelas crianças mortas nas costas do Egeu. Crianças mortas provocam sempre dor. Mas e as crianças que estão vivas e chegam aos milhares e ficam empilhadas nas ruas? Dessas ninguém gosta.(…) as ondas do Egeu não estão a afogar apenas os refugiados e as crianças, mas a própria civilização europeia”. (Alexis Tsipras, 30 de Outubro de 2015)

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