sábado, 6 de agosto de 2011

Em NOME da Diferença


Serve o presente para, através de uma metáfora abstraccionista, emancipar e vincar a diferença existente entre uma ideologia de direita e uma ideologia de esquerda (relevando a dictomia PS/PSD); ela, que por imberbe ser, tão ténue anda e por tantos é ignorada e escamoteada.

Pegue-se nessa caricatura pertencente ao imaginário da sociedade portuguesa que com ela faz o que bem entender: o Zé Povinho.

O Zé Povinho remete-nos para um personagem bucólico, reminiscente rural da vida de campo, da ceifa e apanha da batata, homem rude com mãos calejadas das asperezas da enxada e da foice, pele gretada pelo sol que fustiga o duro trabalho do campo; as suas faces ruborizadas sugerem até uma uma inclinação alcóolatra pela "pinga" de má qualidade servida em balcões sujos do tasco de moscas que frequenta depois de pendurar os botins com que calca a terra que cultiva. A caricatura traçada deste personagem não pode ser dissociada do nome que lhe é atribuído e pelo qual se apresenta de manguito em riste; e mesmo que eliminássemos os abreviados e diminutivos, José Povo continuaria a ser alguém da classe operária, humilde e esmagado pelo que não conhece e valorizando sempre o que é correcto valorizar, inocente e ignorantemente justo seriam os termos correctos para designar quem apenas anseia o trabalho que o sustenta a si e aos seus a mais não almejando e com isso sendo feliz.

Imaginemos, agora, que o imaginário Zé Povinho, ou o sub-imaginário José Povo, se desse a seu respeito não como Zé Povinho, ou José Povo, mas enquanto José Povo de Portugal e assim se designasse. Desde logo, a caricatura do homem rural operário da ceifa seria apagada e substituída, não por uma caricatura, por um esboço de latifundiário de calças e caqui, bem-parecido e de boas maneiras, cujo orgulho pela sua linhagem o obriga a chamar-se não por dois nomes (José Povo ou Zé Povinho) mas a usar os três nomes indicativo que é de boas famílias, quer por parte de pai quer por parte de mãe, menino nascido em berço que o diferenciará dos Zé Povinhos de quem ele se alheará com um desprezo e indiferença emanadas do burguesismo e tiques aristocráticos que fará questão de vincar chamando-se por três nomes, pois de dois nomes são os Zé Povinhos que para ele trabalham e trabalharão.

Da supracitada metáfora sintetiza-se a diferença PS/PSD porquanto PS, sigla indicativa de Partido Socialista, remete-nos para os dois nomes pelos quais tratamos os Zé Povinhos, ou Josés Povos deste mundo, enquanto PSD, sigla indicativa de Partido Social Democrata exacerba a arrogância burguesista que os três nomes sugerem.

A arrogância aristocrática supra-referida de que a impregnação dos três nomes é sintomática não se esgota em devaneios líricos e a sua extrapolação para a dictomia PS/PSD cristaliza-se quando os porta-estandartes do burguesismo arrogante já ilustrado, se dirigem aos Zés Povinhos - aos Zés Povinhos do Subsídio de Desemprego a quem chamam de mandriões, aos Zés Povinhos do Novas Oportunidades a quem acusam de procurar um Certificado de Ignorância ou aos Zés Povinhos a quem, ao contrário deles não tendo nascido em berço regalado, atribuem um conceito de dignidade edificado em mantinhas para o frio e sopinha para a fome (o chamado, em três nomes não poderia deixar de ser, Plano de Emergência Social).

E, caso dúvidas existam acerca da relevância e pertinência da metáfora de que este artigo se serviu, aqui fica a lista dos nomes, por que se deram a conhecer, dos Primeiros-Ministros afectos a cada um dos Partidos Políticos alvo deste ensaio:
PS (Dois Nomes) - Mário Soares, António Guterres, José Sócrates; alguém conseguirá, automaticamente, lembrar-se de um terceiro nome destes políticos??
PSD (Três Nomes) - Francisco Sá Carneiro, Francisco Pinto Balsemão, Aníbal Cavaco Silva, José Manuel Barroso (cujo desígnio Durão Barroso apenas se poderá explicar por via da sua juventude Maoísta), Pedro Santana Lopes e Pedro Passos Coelho; para não mencionar outros notáveis que não se tornaram Primeiros-Ministros como Marcelo Rebelo de Sousa, Luís Filipe Menezes, Manuela Ferreira Leite ou até mesmo, espantem-se, Alberto João Jardim.

Para todos os que dizem não haver diferença entre PS/PSD e que é "tudo a mesma coisa", eu apenas digo que continuarei a assinar Sandro Morgado.




Sem comentários:

Enviar um comentário