domingo, 10 de abril de 2016

Luaty Beirão e o Capitalismo de Último Reduto

Já aqui descrevi a forma como a filosofia subjacente a este Capitalismo de Último Reduto, na sua apologia da submissão e subjugação de tudo ao primado financeiro, castra as possibilidades civilizacionais na concretização de uma sociedade mais justa, solidária e humana, apelidando mesmo este modelo socio-económico (que é o vigente no pós Crash de Wall-Street) de “Grande Sequestrador” (vide Capitalismo de Ultimo Reduto – o Grande Sequestrador).

Na descrição do Grande Sequestrador e da sua capacidade sub-reptícia de tudo subjugar e submeter ao primado financeiro, discriminei três manifestações do seu espírito pragmático que materializam e personificam esta alma-mater do Capitalismo de Último Reduto. Embora de último reduto, a abrangência deste capitalismo não se esgota nas três manifestações enunciadas e a sua omnipresença faz-se sentir amiúde no quotidiano da civilização sequestrada, pelo que é com naturalidade que vos venho agora falar de mais uma manifestação deste último estágio evolutivo do capitalismo, na sua subjugação de tudo á primazia financeira. Chamemos-lhe a manifestação “Luaty Beirão”…

- manifestação “Luaty Beirão”: este tipo de manifestação evidenciou-se na recente reacção do Parlamento Português, a casa de democracia nacional, à condenação do activista do mesmo nome por parte da justiça angolana. Tendo sido proposta a condenação da condenação por PS e BE, esta foi rejeitada pela maioria do parlamento com votos contra de PSD, CDS e PCP, no que apenas pode ser compreendido como mais uma manifestação deste Capitalismo torpe e bafiento que confere sentido à maior das ignomínias; vivêssemos nós numa sociedade saudável em que os eleitos do voto popular representassem de facto quem neles votou, o expectável seria uma condenação unânime por parte do Parlamento Português, país que assina a Cartilha dos Direitos Humanos, a esta clara violação do direito fundamental do Homem à sua opinião e à expressão dessa mesma opinião. Mas nós não vivemos numa sociedade saudável, vivemos subjugados por um Capitalismo de Último Reduto que tudo submete ao primado do Capital e subverte nessa submissão os mais elementares princípios democráticos, e portanto não foi isso que aconteceu, o Parlamento Português não condenou unanimemente nem por maioria sequer a condenação à condenação de Luaty Beirão, e não o fez porquê? Não o fez porque se Portugal assumisse de facto uma posição forte de condenação e repúdio à atitude ditatorial angolana, tal comprometeria o investimento de capital angolano em empresas nacionais que tanto dele necessitam e tal comprometeria a concessão de vistos a tantos portugueses que em Angola encontraram o trabalho que em Portugal escasseia. Desta forma, uma atitude de afronta ao Estado Angolano por parte de Estado Português degeneraria, enquanto medidas retaliatórias, numa redução do Investimento Directo Angolano em Portugal, o que, considerando que Angola é actualmente um dos principais investidores estrangeiros em Portugal, conduziria a que muitas empresas nacionais (empresas importantes e de grande dimensão) enfrentassem problemas de investimento necessário à sua competitividade e à sua subsistência conducentes à redução ou término das suas actividades e consequentemente a um aumento de desemprego, que aliado a outra medida retaliatória da paragem de concessão de vistos a trabalhadores portugueses em Angola constituir-se-ia numa verdadeira tragédia social no que ao aumento galopante do desemprego diria respeito. Assim, concluir-se-á que a não condenação por parte do Parlamento Português à condenação abusiva dos direitos humanos de Luaty Beirão constitui-se numa medida social de combate ao desemprego e à precariedade social, culminando tal dedução lógica naquilo que é o sequestro da defesa de direitos humanos pelo Capital, numa nova demonstração cabal de submissão de tudo ao primado financeiro…Assim é no Capitalismo de Último Reduto…


A manifestação aqui descrita designa na perfeição a capacidade sequestradora deste Capitalismo de Último Reduto; uma capacidade suportada por um pragmatismo lógico e coerente que torna só mais difícil a sua refutação. Medidas que são, por si, socialmente injustas, anti-democráticas e eticamente reprováveis mas que ao abrigo deste modelo económico-social de Capitalismo de Último Reduto se revestem de sentido lógico, coerência e pertinência apenas podem atestar a perversão e perniciosidade deste mesmo modelo.

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